sábado, 7 de agosto de 2010






ESCUDO

Dimas Macedo



Deus mudou de residência

quando eu o procurei no meu corpo.

Eu o quis novamente no cérebro

e ele já se havia plantado na alma.

Ele tinha sossegado o meu busto.

Ele fazia escrituras nos dedos

e acariciava os meus olhos

que viviam completamente tontos de enganos.



As minhas miragens morriam

quando ele chegou muito perto e me disse:

a luz é a que fica gravada na memória,

e o sol é o que nasce brilhando a cada dia,

pois a tua honra e a tua lâmina,

pois a tua glória e o teu escudo

são essas rugas de paz

e essas dálias brancas

e essas tardes mágicas

e essas plantas nobres

que se deixam cair na correnteza.



E Deus já se havia chegado

por entre os fios do sonho

e se havia anunciado leve

como as espumas e os cristais de rocha,

mas ainda não se havia desnudo,

porque as marcas ficam na alma,

porque o vórtice e as vértebras

às vezes me levam para a morte.



Mas a luz de Deus chegou

para ficar dançando no silêncio

e o silêncio

para ficar gravado nas palavras

e as palavras para serem

faladas para o próximo,

porque no próximo o instante,

porque no próximo o quadrante

e as sarças de fogo da espera.



O amor não se compraz no pranto.

A alma é como a música do bosque.

Porque maduro e belo é o encanto

dos que se vão serenos pela vida.



E Deus mudou de residência na mente.

E ficou comigo na frente do espelho.

Deus e suas vestes toscas de cambraia.

A carregar nos braços minha sombra

e a carregar a nuvem dos meus passos.

A me vestir de linho na varanda.



A me jogar confete no espírito.

A me fazer escravo do seu jogo.

A me dizer que o mundo é uma festa

quando se tem a paz e a dor é branda.

Quando se vive sozinho no deserto

buscando o amor / sentindo a esperança.




 

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