domingo, 10 de maio de 2009

A mãe mais chata do mundo



Eu o amo o suficiente para o deixar ver além do amor que eu sinto por você, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos. Eu o amo o suficiente para o deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades são tão duras que me partem o coração. Mais do que tudo, eu o amo o suficiente para dizer-lhe não, quando eu sei que você pode me odiar por isso (e em alguns momentos até odeia). Essas são as mais difíceis batalhas de todas. Mas... no final você vencerá também! E em qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entenderem a lógica que motiva as mães; quando eles lhe perguntarem se sua mãe era má, você vai lhes dizer: “Sim, minha mãe era má. Era a mãe mais má do mundo...
As outras crianças comiam doces no café e eu não podia.
As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço e eu tinha que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas.
Minha mãe tinha que saber quem eram meus amigos e o que eu fazia com eles.Insistia que lhe dissesse com quem iria sair, mesmo que demorasse apenas uma hora ou menos. Ela insistia sempre comigo para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.
E quando era adolescente, ela conseguia até ler os meus pensamentos. A minha vida era mesmo chata! Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tive que esperar pelos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como eu estava ao voltar).
Por causa de minha mãe, eu perdi imensas experiências na adolescência.
Nunca estive envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fui preso por nenhum crime.
Foi tudo por causa dela!!!
Agora que já sou adulto, honesto e educado, estou fazendo o melhor para ser “pai mau”, como minha mãe foi.
Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje:
Não há "mães más" suficientes!
...
Deconheço a autoria desse lindo texto. Principalmente da primeira parte. Se alguém souber, por gentileza, me envie para que eu possa publicar os merecidos créditos.
...
...
Dedico esse lindo texto ao
Stefano, meu filho,

Apesar de toda a minha chatice, existe um imenso amor por detrás de todos os atos, palavras e exigências. A maior expressão de meu amor por você é a preocupação que tenho com tua felicidade; o homem que irá se tornar, a família que poderá construir, as pessoas que irá atrair em seu caminho; os talentos que você pode desenvolver, a sabedoria, a calma e as verdades que podem fazer parte de tua vida. Haverá uma hora em que te deixarei ir com tuas próprias pernas, porém, espero que esta seja a hora em que você, espontaneamente, pedirá meus conselhos.
Da (sua)mãe mais chata do mundo,
Com carinho,
Lílian

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O convite




Não me interessa qual é o teu modo de vida.......
Não me interessa qual é o teu modo de vida.
Quero saber o que anseias, e se ousas sonhar conhecer os desejos do teu coração.
Não me interessa que idade tens.
Quero saber se arriscas procurar que nem um louco o amor, os sonhos, a aventura de estar vivo. Não me interessa saber quais os planetas que estão em quadratura com a tua lua.
Quero saber se tocaste o centro da tua própria dor, se estiveste aberto às traições da vida ou te encolheste e te fechaste com medo de outros sofrimentos!
Quero saber se consegues sentar-te com a dor, a minha ou a tua, sem te mexeres para a esconder, disfarçar ou compor.
Quero saber se consegues viver a alegria, a minha ou a tua; se consegues dançar com loucura e deixar que o êxtase te encha até às pontas dos pés e das mãos sem nos advertires para termos cuidado, sermos realistas, ou nos relembrares as limitações de ser humano.
Não me interessa se a história que me contas é verdadeira.
Quero saber se consegues desapontar o outro para seres verdadeiro contigo mesmo; se consegues suportar a acusação de traição e não atraiçoares a tua própria alma.
Quero saber se consegues ser fiel e, por isso, digno de confiança.
Quero saber se consegues ver beleza mesmo num dia não muito bonito, e se consegues alimentar a tua vida da presença de Deus.
Quero saber se consegues viver com o erro, teu e meu, e mesmo assim ficar de pé à beira de um lago e gritar à Lua prateada, "Sim!"
Não me interessa onde vives nem quanto dinheiro tens.
Quero saber se, depois de uma noite de dor e desespero, exausto, dorido até ao tutano, consegues levantar-te e ocupares-te das necessidades das crianças.
Não me interessa quem és, como chegaste aqui.
Quero saber se permaneces no centro do fogo comigo sem te ires embora.
Não me interessa onde ou o quê ou com quem estudaste.
Quero saber o que te sustém interiormente quando tudo o mais cai à tua volta.
Quero saber se consegues estar só contigo mesmo; e se verdadeiramente gostas da companhia que tens nos momentos vazios.


...

O Convite, de Oriah Mountain Dreamer, escritora norte-americana, Maio, 1994

Texto retirado do bloghttp://www.monicacamacho.com




- Mestre, como faço para me tornar sábio?

- Boas escolhas.

- Mas como fazer boas escolhas?

- Experiência - diz o mestre.

- E como adquirir experiência, mestre?

- Más escolhas
...
Recebi esse diálogo por e-mail, desconheço autoria.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Carta de Clarice



Estou com saudade de falar, citar ou transcrever trechos sobre a Clarice aqui no blog. Recorro a ela sempre que necessito fortalecer minha alma das certezas invisíveis que colho pelo caminho. Clarice me acalma, me sinaliza que o fim do caminho é apenas mais uma oportunidade de recomeço... Então...Acompanhem essa linda carta escrita por ela à sua irmã, Tânia Kaufmam e reflitam em cada palavra, conectem-se à energia da autora, alguém que nunca teve medo de olhar para si e...Renascer. Sempre...





Berna, 6 janeiro 1948


Minha florzinha,


Recebi sua carta desse estranho Bucsky, datada de 30 de dezembro. Como fiquei contente, minha irmãzinha, com certas frases suas. Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida ! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional, uma vida que não parece com você. Tania, não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso, nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar, querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas próprias necessidades, depois disso fica-se um pouco um trapo.Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e de outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, ou falta de caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos levar de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi ? assim fiquei eu...., em que pese a dura comparação....Para me adatar (sic) ao que era inadatável (sic), para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus guilhões, cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante.Espero que o navio que nos leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida, que não era maravilhosa mas era uma vida, eu me transformei inteiramente. Mariazinha, mulher do Milton, um dia desses encheu-se de diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora e disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com uma lasidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria nem necessidade de lhe dizer, então....Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Minha irmãzinha, ouça meu conselho, ouça meu pedido: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você – pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver. Eu tenho tanto medo de que aconteça com você o que aconteceu comigo, pois nós somos parecidas. Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia – será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber – pois somente saber de sua presença me transformaria e me daria vida e alegria. Isso seria uma lição para você. Ver o que pode suceder quando se pactuou com a comodidade de alma. Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja – seja sair nos week-end, seja o que for. Me escreva sem a preocupação de falar coisas neutras – porque como poderíamos fazer bem uma a outra sem esse mínimo de sinceridade ?Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã


Clarice.